Fonte: Valor Econômico
Matéria citando V&G.
Por Ana Paula Ragazzi, de São Paulo
Ainda não há nenhuma nova empresa no horizonte próximo definida para acessar o Bovespa Mais. Mas, nos bastidores, o mercado de acesso estruturado pela bolsa paulista vive momento de efervescência.
O banco Modal aposta grande quantidade de fichas no segmento. Montou um time de 12 pessoas e conquistou o mandato para fazer a oferta de quatro companhias. Na terça-feira, aos moldes de eventos realizados na própria bolsa, o banco reúne os empresários, investidores e todos os agentes que fazem a intermediação das operações em evento no Rio. O objetivo é estreitar o relacionamento entre as partes. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Bovespa também farão apresentações.
Semana passada, o Instituto Empreendedor Endeavor convidou as companhias que assessora para conhecer o Bovespa Mais. A própria bolsa em breve deve promover novo evento.
Para tentar reduzir os efeitos de um grande entrave para empresas no segmento, o Modal fechou parceria com o escritório de advocacia Velloza, Girotto e Lindenbojm, que cobrará das empresas entre 60% e 70% do que normalmente é fixado na preparação de uma oferta inicial no Novo Mercado. Há dez meses, o Modal estrutura sua estréia nesse setor, que, por conta do porte menor das operações, tem despertado pouco interesse dos grandes bancos de investimento.
Nos contatos com as empresas, explica Humberto Tupinambá, sócio-diretor do Modal, a casa percebeu que poucas conheciam essa possibilidade de captação. “Por essa razão, trabalhamos na estruturação do evento”, diz.
Eduardo Rangel, responsável pela área de ofertas e fusões e aquisições do HSBC, afirma que o desconhecimento sobre o Bovespa Mais leva até a um certo preconceito por parte das empresas.
“Aparentemente, muitas companhias enxergam o mercado de acesso como uma espécie de segunda divisão”, diz Rangel. “Não compreendem os benefícios que a adequação gradual de suas estruturas à vida de companhia aberta pode trazer e até avaliam que pode ser mais interessante esperar pelo crescimento para ir diretamente para o Novo Mercado.”
O HSBC foi responsável pela operação inaugural no Bovespa Mais, da Nutriplant, que, em fevereiro passado, captou R$ 20 milhões. A estréia com uma emissão pequena gerou debate no mercado sobre o perfil das candidatas ao segmento. Havia a avaliação de que apenas empresas com operações de pequeno porte se interessariam. Se por um lado essa característica indicaria popularização do segmento, por outro poderia inibi-lo, em razão dos custos das operações e do interesse do investidor por fatias maiores.
O HSBC, depois da primeira experiência, acredita que as colocações devem ter valor maior, na faixa entre R$ 50 milhões e R$ 150 milhões. Rangel afirma que durante o processo da Nutriplant identificou que os investidores preferem bases maiores – ou seja, comprar entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões em ações da companhia, em vez de R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões.
Também o Modal calcula que o segmento é agora para as médias. “Acreditamos que as candidatas precisam ter valor de mercado entre R$ 150 milhões e R$ 300 milhões, com a captação em torno de 20% desse valor”, diz Tupinambá.
Rangel, do HSBC, não descarta a participação de estrangeiros nas ofertas. “Isso ainda não foi testado e, é claro, encareceria a operação, já que exigiria prospecto em inglês, advogados estrangeiros e ‘road show'”, diz. “Mas, se houver uma demanda que compense, como há nas operações no Novo Mercado, é uma possibilidade.”
Para Tupinambá, do lado do investidor, é preciso haver o entendimento de que o Bovespa Mais é um mercado de acesso, em que a empresa será acompanhada por etapas, até a migração ao Novo Mercado. “Acreditamos que as companhias farão pelo menos duas emissões – não menos que uma e não mais que três.”
Para o investidor, é uma oportunidade de comprar um percentual da companhia com um preço atrativo. Além disso, há mais chance de saída, sem ter que esperar um fundo terminar, caso do “private equity”, ou a venda total da companhia. Os especialistas defendem que é um investimento em gestão com potencial alto de retorno.
Há duas semanas, o Instituto Endeavor promoveu uma apresentação da Bovespa para as companhias que assessora. “Hoje temos um grupo de 37 companhias, com faturamento anual de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões”, afirma Paulo Veras, diretor-presidente do Endeavor. “Catorze delas prestigiaram o evento e metade mostrou interesse de promover uma operação futuramente.” Agora, o instituto trabalha com a bolsa paulista para levar quatro de suas empresas para se apresentarem dentro dos eventos Bovespa Mais.
“Um dos pilares do fortalecimento de qualquer segmento de mercado é a atuação dos intermediários. Por essa razão, vemos com bons olhos essas inciativas”, diz João Batista Fraga, diretor de relações com empresas da Bovespa.